Quem está minimamente familiarizado com o Novo Testamento e, em
particular, com os Evangelhos, sabe muito bem que o povo judeu, no
tempo do ministério terrestre de Jesus e mesmo algumas décadas antes,
"não suportava" (para dizer o mínimo!) os romanos, por nada deste mundo!
Claro que a expressão "não suportava", tem, obrigatoriamente, que estar
entre aspas porque, na realidade, eles (os judeus), TINHAM MESMO QUE
SUPORTAR OS ROMANOS, porque se encontravam sob o seu jugo militar (o
exército romano controlava totalmente a Judeia), político (as
autoridades políticas judaicas tinham que se submeter ao governador
romano na Judeia - que era Pilatos, no tempo do "julgamento" de Jesus) e
económico (os romanos tinham recrutado alguns judeus para, através
destes (os publicanos), cobrarem os seus impostos à população judaica).
Num aspeto, os romanos eram bastante "liberais": no aspeto religioso, já
que permitiam que os judeus seguissem as suas práticas religiosas sem
os incomodar grandemente!
Foi, em grande parte, este sentimento
anti-romano que fez "elevar até ao rubro" o desejo de que o Messias, tão
falado pelos profetas (do Antigo Testamento, obviamente), surgisse na
cena da História, para os libertar definitivamente do tão malfadado jugo
romano! Só que a intensificação gradual desse desejo, fez alimentar
neles uma DISTORÇÃO da esperança messiânica! Eles passaram a desejar o
Messias, não tanto para os libertar do pecado, mas para os libertar dos
seus algozes romanos!
É este "pano de fundo" que melhor nos
permite compreender a atitude de alguns judeus que "estavam para vir com
o intuito de arrebatá-Lo [a Jesus] para O proclamarem rei" (João 6:15).
Claro, com um rei como esse, que eles tinham acabado de ver a fazer uma
multiplicação de pães e peixes (ver: João 6:3-13), e também "tinham
visto os sinais que Ele fazia na cura dos enfermos" (João 6:2), a
VITÓRIA SOBRE OS ROMANOS estaria, na sua perspetiva, mais do que
garantida: ao irem para a batalha contra os romanos com um rei desse
"calibre", alimento não lhes faltaria porque, do pouco alimento que
sobrasse entre os soldados, Jesus o poderia multiplicar, se houvesse - o
que seria de esperar! - feridos nos campos de batalha, Jesus poderia
curá-los! Tinham certamente encontrado o rei perfeito! Mas, queriam esse
rei, para quê? Para acabar com o jugo romano!
Ellen White intensifica-nos ainda mais esta visão:
Sentado na relva da planície, ao crepúsculo de uma tarde de primavera, o
povo comeu do alimento que Cristo provera. As palavras por eles
ouvidas, naquele dia, soaram-lhes aos ouvidos como a voz de Deus. As
obras de cura que presenciaram eram tais, que só o poder divino as
poderia realizar. Mas o milagre dos pães tocou a todos naquela vasta
multidão. Todos participaram de seus benefícios. Nos dias de Moisés,
Deus alimentara Israel com o maná no deserto; e quem era este que os
alimentara naquele dia, senão Aquele de quem Moisés tinha profetizado?
Poder algum humano poderia criar, de cinco pães de cevada e dois
peixinhos, alimento bastante para saciar milhares de criaturas famintas.
E disseram uns aos outros: “Este é verdadeiramente o profeta que devia
vir ao mundo.”
Durante todo o dia essa convicção se robustecera.
Aquele ato, que tudo coroou, é a afirmação de que o longamente esperado
Libertador Se acha entre eles. As esperanças do povo vão subindo de
ponto. É este Aquele que há de tornar a Judeia um paraíso terrestre, uma
terra que mana leite e mel. Pode satisfazer todo o desejo. Pode
derrubar o poder dos odiados romanos. Pode libertar Judá e Jerusalém.
Pode curar os soldados feridos na batalha. Abastecer exércitos inteiros
de alimento. Conquistar as nações, e dar a Israel o domínio longamente
ambicionado." (O Desejado de Todas as Nações, pág. 260 da edição online)
Mas, como muito bem referiu David Tasker, o autor da Lição da Escola
Sabatina deste trimestre (na lição deste passado dia 18 de fevereiro):
"Era o terceiro dia depois da morte de Jesus. Os Seus seguidores ainda
estavam atordoados, em choque. Pensavam que Ele iria esmagar os Romanos,
mas parecia que tinham sido os Romanos a esmagá-Lo."
O que uma
PERSPETIVA ERRÓNEA PODE FAZER! Tivessem eles encarado o "esperado
Libertador" na perspetiva correta, e nenhum atordoamento lhes teria
invadido a mente e o coração quando Jesus morreu, condenado à morte pelo
decreto final de uma autoridade... romana!
A Bíblia afirma,
perentoriamente, que "o que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso
se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol" (Eclesiastes
1:9).
Dar-se-á o caso de, sem disso nos apercebermos, estarmos a
REPETIR a história do povo de Israel de outrora, nos nossos dias? É que,
DA MESMA FORMA que ao ANTIGO povo de Israel corresponde hoje um NOVO
Israel (espiritual), aos romanos de outrora correspondem, nos dias
atuais, uns novos romanos "espirituais"! Será que, na perspetiva de
alguns (ou da maioria) dos atuais "judeus", os seus maiores inimigos
sejam igualmente percecionados como os "odiados romanos"? E o que MAIS
faz alimentar a esperança messiânica (no aparecimento do Messias pela
SEGUNDA vez) no coração e na mente dos judeus de hoje: a libertação
definitiva do poder do pecado e do mal, ou do "poder dos odiados
romanos"? Será igualmente possível que alguns dos judeus de hoje
mantenham a perspetiva de que Deus, através do Seu atual Israel
remanescente irá, pela pregação do "evangelho eterno" (Apocalipse 14:6),
"conquistar as nações, e dar a Israel o domínio longamente
ambicionado"?
DESENGANEM-SE todos aqueles que alimentam nas suas mentes
estas DISTORÇÕES messiânicas!
A mensagem principal que pretendo
transmitir é tão simplesmente esta: assim como o ministério terrestre de
Jesus DESILUDIU a muitos daqueles que O professavam seguir, e até
coroar como rei (ler o resto do capítulo 40 do livro DTN), àqueles mesmo
que, antes, pareciam ser alguns dos Seus mais devotos seguidores, assim
o ministério da Sua Igreja remanescente irá DESILUDIR a muitos que,
aparentemente, são agora alguns dos seus mais devotos membros e/ou
simpatizantes! E assim como o ministério terrestre de Jesus pareceu ir,
na opinião desses, de derrota em derrota, até à Sua última GRANDE
derrota (a Sua morte na cruz do Calvário), assim, para muitos, hoje, o
ministério da Sua Igreja parece ir de derrota em derrota!
Mas
também, assim como as aparentes derrotas de Jesus revelaram ser grandes
vitórias (a Sua morte na cruz foi a MAIOR VITÓRIA alguma vez conseguida
EM TODO O UNIVERSO), as aparentes derrotas da Sua Igreja de hoje
revelarão ser, no seu devido tempo, grandes vitórias para Deus, para o
Seu Reino e para a Sua Verdade, porque Aquele que está no comando da Sua
Igreja é Alguém que não conhece derrota: "sobre esta Pedra [Jesus
Cristo] edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela." (Mateus 16:18). LOUVADO SEJA DEUS!
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