Há uns 14 anos, depois de ter apresentado numa reunião de igreja o
que a seguir irei aqui apresentar, um irmão, no final da dita reunião,
confidenciou-me: "Pastor, foi pena que não tivesse ouvido esta
apresentação há 30 anos, pois andei a carregar todos estes anos um fardo
desnecessário!"
O que é que trouxe tanto alívio a esse irmão?
Pois bem, a simples compreensão de que PERDOAR NÃO É ESQUECER! Não é?
Não, no sentido em que, a maior parte das vezes, a palavra "esquecer" é
compreendida! Mas vamos aos FACTOS bíblicos:
Um dos mais
importantes itens, senão mesmo O MAIS IMPORTANTE de todos os itens da
Oração que convencionamos (e muito bem!) apelidar a "Oração Modelo"
(também conhecida como a "Oração do Pai Nosso"), é o item do PERDÃO! Por
que é que eu digo que esse é o mais importante de todos os itens dessa
Oração Modelo? Porque foi O ÚNICO ITEM que Jesus COMENTOU, depois de ter
dado a conhecer a Sua Oração! Se nunca repararam, então façam isso
agora: A SEGUIR à versão "completa" da Oração, apresentada pelo
evangelista Mateus (em Mateus 6:9-13, por oposição à versão mais curta
apresentada pelo evangelista Lucas, em Lucas 11:2-4), aparecem as
seguintes palavras que Jesus terá dito, logo após a Sua apresentação da
Oração: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso
Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas
ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas." (Mateus
6:14-15).
Sim, Jesus NÃO COMENTOU sobre a necessidade de se
santificar o nome de Deus, nem sobre a vinda do Seu reino, nem sobre a
necessidade de se fazer a Sua Vontade, nem sobre "o pão nosso de cada
dia", nem sobre a nossa crucial necessidade de não cairmos vítimas da
tentação e do mal, nem ainda enfatizou como "Teu é o reino, o poder e a
glória para sempre" - TUDO ISSO Ele tinha acabado de referir e,
certamente, para Jesus, não havia necessidade de dizer mais nada sobre
aquilo que Ele tinha deixado bem claro - MAS, apesar da questão do
perdão ter ficado igualmente clara, MESMO ASSIM, Jesus reforça, APENAS E
SÓ, a questão do PERDÃO, com as palavras acima transcritas! Este facto
não deve, não pode, passar desapercebido a nós! E a razão é simples: SEM
PERDÃO NÃO EXISTE SALVAÇÃO!
Sem o perdão de Deus, todos nós
estamos perdidos, PORQUE "não há homem justo sobre a terra que faça o
bem e que não peque" (Eclesiastes 7:20)! Mas, para que o perdão de Deus
em nosso favor SEJA PLENAMENTE EFETIVO, há uma condição: teremos que
perdoar "aos homens as suas ofensas" DA MESMA FORMA que Deus nos perdoa a
nós! Na parábola do credor incompassivo (relatada apenas por Mateus -
em Mateus 18:23-35), Jesus não poderia ter sido mais claro, ao
deixar-nos a MESMA LIÇÃO: "Assim também Meu Pai celeste vos fará, se do
íntimo não perdoardes cada um a seu irmão." (Mateus 18:35).
E
COMO É QUE DEUS NOS PERDOA? Muitos e muitos textos bíblicos poderiam ser
aqui citados, mas eu escolho apenas três que, no meu entender, revelam
de forma ABSOLUTAMENTE CLARA a forma como Deus nos perdoa:
"Eu,
Eu mesmo, sou o que APAGO AS TUAS TRANSGRESSÕES por amor de Mim e DOS
TEUS PECADOS NÃO ME LEMBRO." (Isaías 43:25; minha ênfase em maiúsculas).
Que MENSAGEM PODEROSA este texto encerra, não é verdade? Outro texto:
"De todas as transgressões que cometeu NÃO HAVERÁ LEMBRANÇA contra ele;" (Ezequiel 18:22; minha ênfase em maiúsculas).
"Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que PERDOAS a iniquidade E TE
ESQUECES da transgressão do restante da Tua herança? O SENHOR não retém a
Sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter
compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos
os nossos pecados nas profundezas do mar." (Miquéias 7:18-19; minha
ênfase em maiúsculas). Pode restar alguma dúvida sobre a forma como Deus
nos perdoa?
É precisamente AQUI que surge um GRANDE PROBLEMA na
mente de muitos crentes, no seu desejo SINCERO de perdoar "aos homens
[que os ofenderam] as suas ofensas"! É que eles querem perdoar aos seus
"devedores" (Mateus 6:12) DA MESMA FORMA que Deus os perdoou a eles!
Eles querem perdoar e admitem mesmo tê-lo feito ou, pelo menos, esse é o
SEU DESEJO, MAS... não conseguem esquecer o que lhes foi feito, não
conseguem deixar de ter "lembrança" do que motivou o seu perdão aos
outros! E, como não conseguem esquecer-se do que lhes foi feito, COMEÇAM
POR DUVIDAR se o seu perdão é, efetivamente, do mesmo tipo de perdão
que eles sabem que Deus lhes dá! E a conclusão óbvia parece ser que eles
não perdoaram aos outros DA MESMA FORMA que Deus os perdoou a eles! E,
se assim é, será que Deus mantém o Seu perdão para com eles, visto que,
aparentemente, eles não perdoam "do íntimo... cada um a seu irmão", uma
vez que ainda se lembram e não conseguem esquecer-se do que lhes foi
feito?
O diabo é um inimigo MUITO CRUEL e ele não deixará de
MASSACRAR a mente de muitos cristãos com estas dúvidas, dúvidas essas
que são alimentadas... por uma incorreta compreensão da palavra
"esquecer", no seu contexto bíblico! Sabem, um dos GRANDES DRAMAS que
tem existido, existe ainda e certamente continuará a existir, na
interpretação do que a Bíblia nos revela, é que se interpretam palavras,
expressões, ou mesmo frases, SEGUNDO O CONCEITO ATUAL que temos de
certas palavras ou expressões! Mas as línguas são entidades em constante
mutação e, por isso mesmo, o significado ATUAL de uma palavra ou
expressão pode não ser exatamente O MESMO que tinha nos tempos bíblicos!
Por isso, para INTERPRETARMOS CORRETAMENTE o que determinada palavra ou
expressão bíblica significa, teremos que encontrar esse significado...
na própria Bíblia, "um pouco aqui, um pouco ali" (Isaías 28:10). Um
exemplo de uma incorreta interpretação: hoje, alguns afirmam que Jesus
morreu numa quarta-feira à tarde, e ressuscitou no Sábado à noite a
seguir, contrariando assim a compreensão tradicional que existe na
cristandade em geral de que Jesus morreu numa sexta-feira à tarde e
ressuscitou no domingo seguinte, de madrugada!
E por que é que avançam
com essa interpretação? Por uma razão "muito simples": é que a Bíblia
diz-nos que o próprio Senhor Jesus Cristo afirmou que estaria "três dias
e três noites no coração da terra" (Mateus 12:40). Assim sendo, como
poderão ter passado "três dias e três noites", de sexta-feira à tarde a
domingo de madrugada? Lá está: segundo a nossa ATUAL forma de contar os
dias, isso é uma incoerência! Só que, nos tempos bíblicos, os dias não
se contavam DA MESMA FORMA como os contamos hoje! E, de facto, na
Bíblia, encontramos a FORMA como os dias eram contados e, COM ESSA
FORMA, tudo bate certinho (não vou agora entrar em mais detalhes sobre
este assunto)!
Voltando ao nosso assunto principal: comparem, por
favor, estes dois textos bíblicos, AMBOS escritos pelo MESMO apóstolo
(Paulo):
"Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas
uma coisa faço: ESQUECENDO-ME DAS COISAS QUE PARA TRÁS FICAM e avançando
para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prémio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses 3:13 e 14; minha
ênfase em maiúsculas);
"Sou grato para com aquele que me
fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel,
designando-me para o ministério, A MIM, QUE, NOUTRO TEMPO, ERA blasfemo,
e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na
ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso
Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus." (1 Timóteo 1:12-14;
minha ênfase em maiúsculas).
Conseguem ver nestes textos
supracitados, a APARENTE contradição de Paulo? Mas, a "contradição" SÓ
EXISTE se não interpretarmos corretamente o que significa a palavra (ou o
verbo) "esquecer"! Caso contrário, como poderia o mesmo apóstolo Paulo,
POR UM LADO, dizer que se ESQUECIA "das coisas que para trás ficam" e,
POR OUTRO LADO, LEMBRAR-SE perfeitamente que, "noutro tempo [da sua vida
PASSADA]" tinha sido "blasfemo, e perseguidor, e insolente"? É caso
para nos perguntarmos: então, ele ESQUECIA-SE OU NÃO "das coisas que
para trás ficam"? E é por esta e por outras que, para muitas pessoas, a
Bíblia está cheia de "contradições" e "incoerências"!
A solução
para esta - volto a enfatizar: APARENTE! - contradição, é deveras
SIMPLES: é que ESQUECER, no sentido bíblico do termo, NÃO É ficar
amnésico, isto é, sem qualquer memória de factos passados! "Esquecer"
significa uma atitude ativa de não permitir que o passado mais nos
incomode! É colocar esse passado num tipo de arquivo morto, ou "nas
profundezas do mar"! As memórias estão lá, sim, mas não nos incomodam
mais na nossa vivência do presente! Isto é ESQUECER - no sentido bíblico
do termo!
Se o perdão que o Senhor nos concede trouxesse consigo
uma correspondente amnésia (o que, muitos, talvez, desejassem que
acontecesse!), isso seria ALTAMENTE ARRISCADO para nós, pois, estando
amnésicos para aquilo que praticámos, de infame, no passado, poderia
predispor-nos, de certo modo, a voltarmos a fazer aquilo do qual fomos
perdoados! Deus é bom, e quer precisamente que nos LEMBREMOS de onde
viemos, para assim DARMOS MAIS VALOR à operação de resgate que Ele, na
Sua Graça e Misericórdia, operou em nosso favor! E o texto de Ezequiel
36:25 a 31 é claríssimo a este respeito, a saber, diz-nos que, a
vivência do perdão e da conversão, longe de nos fazer ESQUECER do nosso
passado (segundo a nossa compreensão atual), leva-nos, pelo contrário, a
melhor nos LEMBRARMOS do nosso passado:
- o versículo 25 é uma
referência ao BATISMO (pela água): "Então, aspergirei água pura sobre
vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os
vossos ídolos vos purificarei.";
- o versículo 26 é uma
referência à CONVERSÃO ou ao NOVO NASCIMENTO: "Dar-vos-ei coração novo e
porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e
vos darei coração de carne.";
- o versículo 27 fala-nos do PODER
PARA A OBEDIÊNCIA que acompanha a nova vida do CRENTE CONVERTIDO: "Porei
dentro de vós o Meu Espírito e farei que andeis nos Meus estatutos,
guardeis os Meus juízos e os observeis.";
E agora, pasmem! DEPOIS
do crente ter passado pelo batismo, pela conversão, e de ter sido
habilitado pelo poder do Espírito Santo a uma nova vida (comparar com:
Gálatas 2:19-20), acontece-lhe isto:
- "ENTÃO, VOS LEMBRAREIS dos
vossos maus caminhos e dos vossos feitos que não foram bons; tereis
nojo de vós mesmos por causa das vossas iniquidades e das vossas
abominações." (v. 31). E, no Novo Testamento, A MESMA SEQUÊNCIA é
indicada: "Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em
relação à justiça. NAQUELE TEMPO, que resultados colhestes? Somente as
coisas de que, AGORA, vos envergonhais; porque o fim delas é morte."
(Romanos 6:20-21; minha ênfase em maiúsculas). Por que é que os crentes,
para quem Paulo estava a escrever, iriam envergonhar-se das "coisas"
feitas "naquele tempo" em que tinham sido "escravos do pecado"?
Obviamente, porque LEMBRAVAM-SE delas, ou seja, não tinham ficado
amnésicos!
Sim, amigos, Deus, através do perdão que nos concede -
quando, arrependidos, confessamos os nossos pecados! - esquece-se ou
não se lembra dos nossos pecados e olha para nós, como se nunca
tivéssemos pecado (lembrem-se do que Ele disse a respeito de Davi - em 1
Reis 14:8), mas Deus não é, obviamente, um Deus amnésico, razão pela
qual até nos faz LEMBRAR dos nossos "maus caminhos" para termos "nojo de
[nós] mesmos", e assim não voltemos a cair na chiqueirice do pecado
(ver: 2 Pedro 2:20-22)! É desta forma que Deus nos perdoa e... esquece
os nossos pecados!
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