Colecção “Verdades Eternas”.6
OBEDIÊNCIA À VONTADE DE DEUS
«Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo.» (II Coríntios 5:17). Pode alguém não ser capaz de dizer exactamente o momento ou lugar
da sua conversão, nem indicar o encadeamento exacto das circunstâncias que a acompanharam; mas
isso não prova que essa pessoa não esteja convertida. Cristo disse a Nicodemos: «O vento assopra
onde quer, e ouves a sua voz; não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é
nascido do Espírito.» Como o vento, que é invisível mas cujos efeitos se podem claramente ver e
sentir, assim é o Espírito de Deus no coração humano. Essa virtude regeneradora, que nenhum
homem pode ver, gera a alma para uma vida nova; cria um novo ser, à imagem de Deus.
Transformação da vida
Conquanto a obra do Espírito seja silenciosa e imperceptível, os seus efeitos são manifestos. Se o
coração estiver renovado pelo Espírito de Deus, a vida dará testemunho desse facto. Se bem que
nada possamos fazer para mudar o coração ou pôr-nos em harmonia com Deus; se bem que não
devamos, de modo nenhum, confiar em nós mesmos ou nas nossas obras, a nossa vida revelará, não
obstante, se a graça de Deus habita em nós. Notar-se-á uma transformação no nosso carácter, nos
nossos hábitos e actividades. Será flagrante o contraste entre o que se foi e o que se é. O carácter
revela-se, não por boas ou más acções ocasionais, mas pela tendência habitual das palavras e dos
actos.
É verdade que se pode ter uma conduta exteriormente correcta sem o poder transformador de Jesus
Cristo. O amor da influência e o desejo de possuir a estima dos semelhantes podem produzir uma
vida regrada. O respeito humano pode levar a evitar as aparências do mal. Um coração egoísta pode
praticar acções generosas. Como, pois, determinar de que lado nos encontramos?
Que possui o nosso coração? Com quem estão os nossos pensamentos? De quem gostamos de falar?
Quem é o objecto das nossas mais ardentes afeições e das nossas melhores energias? Se formos de
Cristo, os nossos pensamentos estarão com Ele, e n’Ele se concentrarão as nossas mais doces
emoções. Tudo o que temos e somos ser-Lhe-á consagrado. Desejaremos vivamente reproduzir a
Sua imagem, possuir o Seu Espírito, fazer a Sua vontade e agradar-Lhe em todas as coisas.
Os que se tornam criaturas novas em Cristo Jesus, produzirão os frutos do Espírito – «amor, gozo,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.» (Gálatas 5:22-23). Não se
conformarão por mais tempo com as concupiscências anteriores, mas pela fé no Filho de Deus
seguirão as Suas pisadas, reflectirão o Seu carácter e purificar-se-ão assim como Ele é puro. Amam
doravante o que outrora aborreciam, e aborrecem o que outrora amavam. O orgulhoso, o arrogante,
torna-se manso e humilde de coração. O que era vaidoso e autoritário torna-se circunspecto e
acessível. O ébrio torna-se sóbrio e o licencioso torna-se puro. Os vãos costumes do mundo e as
suas modas são renunciadas. O cristão buscará, não o «enfeite exterior», mas o homem encoberto
no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus.» (I
Pedro 3:3-4).
Sem reforma, não há provas de verdadeira conversão. O pecador que repara o mal causado, que
devolve o que roubara, que confessa os pecados e que ama a Deus e ao próximo, pode estar ceto de
que passou da morte para a vida.
Quando vamos a Jesus na qualidade de criaturas transviadas e pecadoras, e nos tornamos
participantes do Seu perdão, surge o amor nos nossos corações. Todo o peso se torna leve, pois é
suave o jugo que Jesus nos impõe. O dever torna-se um deleite, o sacrifício um prazer. O caminho
que antes se afigurava coberto de trevas, torna-se iluminado pelos raios do Sol da Justiça.
A beleza do carácter de Cristo manifestar-se-á nos Seus discípulos. Era Seu deleite fazer a vontade
de Deus. Amar a Deus e viver para a Sua glória, era o motivo dominante na vida do nosso Salvador.
O amor embelezava e enobrecia todos os Seus actos. O amor vem de Deus. O coração que não
tenha sido regenerado não o consegue produzir. Encontra-se unicamente no coração em que reina
Jesus. «Nós o amamos porque ele nos amou primeiro.» (I João 4:19). O amor é a base de todos os
actos do coração renovado pela graça divina. Ele modifica o carácter, dirige os impulsos, domina as
paixões, subjuga a inimizade e enobrece os afectos. Este amor, abrigado na alma, dulcifica a vida e
espalha ao redor uma influência enobrecedora.
Obediência à lei de Deus
Há dois erros contra os quais os filhos de Deus – designadamente os que acabam de aceitar a Sua
graça – devem, de modo particular, precaver-se. O primeiro, de que já falámos consiste em olhar
para as próprias obras e confiar em qualquer boa acção para entrar no favor de Deus. Aquele que
procura tornar-se santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o impossível. Tudo o que o
homem possa fazer sem Cristo, está poluído de egoísmo e pecado. É unicamente a graça de Cristo,
pela fé, que nos pode tornar santos.
O erro oposto e não menos perigoso consiste em crer que a fé em Jesus isenta o homem da
observância da lei de Deus; que, sendo só pela fé que nos tornamos participantes da graça de Cristo,
as nossas obras nada têm que ver com a redenção.
Mas notai que a obediência não é apenas uma submissão externa, mas um serviço de amor. A lei de
Deus é um reflexo da Sua própria natureza, é a expressão do grande princípio do amor, e, por
conseguinte, o fundamento do Seu governo no Céu e na Terra. Se os nossos corações forem
transformados à semelhança de Deus, se o amor divino for implantado na nossa alma, não poremos,
então, em prática a lei de Deus? Implantado no coração o princípio do amor, renovado o homem
segundo a imagem d’Aquele que o criou, cumpre-se a promessa da nova aliança: «Porei as minhas
leis nos seus corações, e as escreverei nos seus entendimentos.» (Hebreus 10:16). E se a lei estiver
escrita no coração, não moldará ela a vida? Uma obediência, uma submissão tendo por motivo o
amor, – eis a prova do verdadeiro discípulo. Assim diz a Escritura: «A circuncisão é nada, e a
incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus.» (I Coríntios 7:19).
«Porque, qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.
Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu, pois, não
cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.
Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade.» (Tiago 2:10-12).
«Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não
são pesados.» «Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e
nele não está a verdade.» (I João 5:3; 2:4). Longe de dispensar-nos da obediência, a fé torna-nos
participantes da graça de Cristo, que nos habilita a ser obedientes.
Não ganhamos a salvação pela nossa obediência; pois que a salvação é um dom gratuito de Deus,
que se obtém pela fé. «E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não
há pecado. Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu.»
(I João 3:5-6). Aí é que está a verdadeira prova. Se habitamos em Cristo, se o amor de Deus habita
em nós, os nossos sentimentos, os nossos pensamentos, as nossas acções estão em harmonia com a
vontade de Deus tal como se expressa nos preceitos da Sua santa lei: «Filhinhos, ninguém vos
engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo.» (I João 3:7). A justiça está definida na
santa lei de Deus, enunciada nos dez preceitos dados no Sinai.
A pretensa fé em Cristo que desobriga os homens da obediência a Deus, não é fé mas presunção.
«Assim, também, a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.» (Tiago 2:17). Antes de descer à
Terra, Jesus dizia de Si mesmo: «Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está
dentro do meu coração.» (Salmos 40:8). E no momento de voltar para o Céu, declarou: «Tenho
guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.» (João 15:10). A Escritura diz:
«Nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu
conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas,
qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado: nisto
conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou.»
(I João 2:3-6). «Pois, também, Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as
suas pisadas.» (I Pedro 2:21).
Poder para obedecermos
Antes da queda era possível a Adão formar um carácter justo pela obediência à lei de Deus. Mas
deixou de o fazer, e devido ao seu pecado a nossa natureza está decaída, e não podemos obedecer
perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça que nos permita satisfazer as exigências da lei
de Deus. Mas Cristo preparou-nos uma saída. Viveu na Terra no meio de provas e tentações como
as que nos sobrevêm a nós. Viveu uma vida sem pecado. Morreu por nós, e agora oferece-Se para
tomar sobre Si os nossos pecados e dar-nos a Sua justiça. Se vos entregardes a Ele e O aceitardes
como vosso Salvador, por mais pecaminosa que tenha sido a vossa vida, por Sua causa sereis
considerados como justos. O carácter de Cristo substitui o vosso carácter, e sereis aceitos diante de
Deus exactamente como se nunca houvésseis pecado.
E ainda mais: Cristo mudará o vosso coração. Habitará nele pela fé. E estas relações com Jesus pela
fé, e esta rendição constante da vossa vontade à Sua, devem ser mantidas. E enquanto isso fizerdes,
Ele operará em vós o querer e o efectuar, segundo o Seu beneplácito: «A vida que agora vivo, na
carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.» (Gálatas
2:20). É assim que Jesus podia dizer aos Seus discípulos: «Não sois vós quem falará, mas o Espírito
do vosso Pai é que fala em vós.» (Mateus 10:20). Então o Espírito de Jesus Cristo, agindo em vós,
vos permitirá manifestar as mesmas disposições que Ele e praticareis as mesmas obras – obras de
justiça e de obediência.
Nada termos, pois, em nós, de que nos possamos orgulhar. Não temos motivo para exaltação
própria. O nosso único motivo de esperança está em ser-nos imputada a justiça de Cristo, – essa
justiça produzida pelo Seu Espírito em nós e por nós.
Quando falamos em fé, devemos ter presente uma distinção. Existe uma espécie de crença que é
inteiramente diversa da fé. A existência e o poder de Deus, a veracidade da Sua palavra são factos
que Satanás e as suas hostes não podem sinceramente negar. Diz a Bíblia que «também os demónios
o crêem e estremecem.» (Tiago 2:19); mas isto não é fé. Onde existe não só a crença na Palavra de
Deus, mas também submissão à Sua vontade; onde o coração se acha rendido a Ele e as afeições
n’Ele concentradas, aí existe fé – a fé que opera por amor e purifica a alma. É por meio desta fé que
a alma é transformada à imagem de Deus. E o coração que no seu estado irregenerado não se
submetia à lei de Deus, deleita-se agora nos seus preceitos, e exclama com o salmista: «Oh! Quanto
amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.» (Samos 119:97). E cumpre-se a justiça da lei
em nós, os que não andamos «segundo a carne, mas segundo o espírito.» (Romanos 8:1).
Uma palavra aos desanimados
Há pessoas que experimentaram o amor e o perdão de Jesus Cristo, e que sinceramente desejam ser
filhos de Deus e todavia reconhecem as imperfeições do seu carácter e as faltas da sua vida, e
chegam a ponto de duvidar da realidade da sua regeneração pelo Espírito Santo. A esses desejaria
dizer: Não vos deixeis abater. Muitas vezes teremos de nos prostrar aos pés de Jesus e aí chorar as
nossas faltas e erros; mas não devemos desanimar. Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo,
não somos repelidos, abandonados nem rejeitados por Deus. Não, Cristo está à dextra de Deus, e
intercede em vosso favor. Dizia o discípulo amado: «Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para
que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.» (I
João 2:1). Não esqueçais estas palavras de Cristo: «O mesmo Pai vos ama.» (João 16:27). Ele
deseja levar-vos de novo a Si, e ver reproduzidas em vós a Sua pureza e santidade. E se tão-somente
vos entregardes nas Sua mãos, Aquele que em vós começou a boa obra há-de aperfeiçoá-la até ao
dia de Jesus Cristo. Orai com mais fervor; crede mais plenamente. À medida que formos
desconfiando do nosso próprio poder, mais confiaremos no poder do nosso Redentor, e havemos de
louvá-l’O, a Ele que é a «saúde da nossa face».
Quanto mais vos aproximardes de Jesus, tanto mais defeituosos sereis aos vossos próprios olhos;
porque a vossa visão espiritual será mais clara e as vossas imperfeições oferecerão um contraste
cada vez mais pronunciado com a perfeição da Sua natureza. É a prova de que os embustes de
Satanás perderam o seu poder e de que a influência do Espírito de Deus vos está a despertar.
Não pode arraigar-se um amor profundo no coração daquele que não reconhece o seu pecado. Se
não reconhecermos a nossa deformidade moral, teremos a prova inequívoca de que não alcançámos
ainda uma visão da beleza e da excelência de Cristo, cujo carácter faz a admiração da alma
transformada pela graça.
Quanto menos digno de estima virmos em nós, tanto mais compreenderemos a pureza infinita e o
amor do nosso Salvador. A vista da nossa natureza pecadora e da nossa impotência lança-nos nos
braços d’Aquele que pode perdoar-nos, e Jesus revela a Sua força à alma que O procura com o
sentimento da sua impotência. Quanto mais a convicção da nossa miséria nos levar para junto d’Ele
e da Palavra de Deus, tanto mais alta é a visão que teremos do Seu carácter, e mais perfeitamente
reflectiremos a Sua imagem.
DÁ O TEU CORAÇÃO
Queres o teu vil pecado vencer?
Dá o teu coração a Jesus.
Queres também o Seu favor receber
Dá o teu coração a Jesus.
Em santidade desejas viver?
Dá o teu coração a Jesus.
Queres do Espírito Santo o poder?
Dá o teu coração a Jesus.
A tempestade não quer acalmar?
Dá o teu coração a Jesus.
Queres as tuas paixões refrear?
Dá o teu coração a Jesus.
Dos teus amigos alguém te traiu?
Dá o teu coração a Jesus.
Busca a amizade de quem te remiu;
Dá o teu coração a Jesus.
Queres no Céu a teu Deus exaltar?
Dá o teu coração a Jesus.
Queres a glória divina alcançar?
Dá o teu coração a Jesus.
Já chega de hesitação!
Já chega de oposição!
Oh, busca em Cristo o perdão.
E dá-Lhe o teu coração.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
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